O hipopótamo comum (HIPPOPOTAMUS AMPHIBIUS) é um mamífero herbívoro de grande porte da África subsariana e uma das duas únicas espécies não extintas da família HIPPOPOTAMIDAE, sendo a outra o hipopótamo-pigmeu (CHOEROPSIS LIBERIENSIS ou HEXAPROTODON LIBERIENSIS). O seu nome provém do grego antigo, significando "cavalo do rio" (ἱπποπόταμος). Apesar das suas semelhanças físicas com os porcos e outros ungulados ARTIODÁTILOS (sendo por isso designado de animal porcino ), os seus parentes vivos mais próximos são os cetáceos (baleias, os golfinhos, etc.) dos quais divergiram há cerca de 55 milhões de anos. O antepassado comum das baleias e dos hipopótamos demarcou-se dos outros ARTIODÁTILOS há cerca de 60 milhões de anos atrás. O fóssil mais antigo conhecido de hipopótamo, pertencente ao género KENYAPOTAMUS em África, data de cerca de 16 milhões de anos atrás. Já foi designado como cavalo-marinho e peixe-cavalo .
O hipopótamo-comum é reconhecível pelo seu torso em forma de barril, bocas com grande capacidade de abertura revelando grandes presas caninas, corpo quase glabro (sem pelos), patas em forma de coluna e pelo seu grande tamanho. As patas terminam com quatro dedos distintos com membrana interdigital. Cada dedo assenta no solo pelo seu respetivo casco . Constituem o terceiro maior animal de vida terrestre no que diz respeito ao peso (entre 1½ e 3 toneladas): as únicas espécies em média mais pesada são os rinocerontes-brancos e os rinocerontes-indianos, bem como os elefantes. Tem um comprimento, em média, de 3,5 m e uma altura de 1,5m . O hipopótamo é um dos maiores quadrúpedes e, apesar do seu aspeto entroncado e patas curtas, consegue facilmente ultrapassar um ser humano. Há registos de velocidades de 30 km/h atingidas por hipopótamos em curtas distâncias. É um animal altamente agressivo e de comportamento imprevisível, sendo considerado um dos animais africanos mais perigosos. Contudo, são uma espécie vulnerável devido à perda dos seus habitats e devido à caça pela sua carne, dentição canina de marfim e pela sua pele.
É um animal semiaquático que habita as margens de rios, lagos e pântanos do género dos mangais, podendo mesmo chegar às águas salobras dos estuários, onde um macho dominante preside sobre um troço de rio onde agrupa entre cinco a trinta fêmeas e jovens crias. Durante o dia, mantêm o corpo fresco ficando na água ou na lama; tanto o acasalamento como o parto ocorrem na água. Emergem dela ao anoitecer para se apascentarem na erva. Ainda que se mantenham perto uns dos outros na água, a pastagem é uma atividade solitária, não tendo hábitos territoriais em terra seca.
Questões linguísticas
A palavra "hipopótamo" deriva do grego antigo ἱπποπόταμος, HIPPOPOTAMOS, reunindo os étimos ἵππος, HIPPOS, "cavalo", e ποταμός, POTAMOS, "rio", o que resulta na expressão "cavalo do rio". Em português, como a palavra hipopótamo é um nome epiceno (só tem uma forma), o seu feminino é hipopótamo fêmea . Em inglês, o plural de "HIPPOPOTAMUS" é HIPPOPOTAMUSES, embora também se possa usar a palavra "HIPPOPOTAMI". "HIPPOS" pode ainda ser usado como plural abreviado. O hipopótamo é um animal gregário, vivendo em grupos que podem atingir o número de 30 espécimes. A estes grupos (nome coletivo) dá-se o nome de manada .
Em África, os hipopótamos são designados por diversos nomes incluindo SEEKOEI (africâner), MVUVU (Venda), KUBU (LOZI) e MVUBU (XHOSA, SUÁZI e Zulu) no sul do continente; KIBOKO(SWAHILI), ensherre (runyankole), tomondo (Turu), nvubu (Luganda), ifuru (lUHYA), emiria (ateso), MAGAWIT (SEBEI), KIBEI (KALENJIN) e OLMAKAU (MAASAI) na região dos Grandes Lagos;[10] e ጉማርረ/GUMARRE (amárico) e JEER (somali) no Corno de África.
Taxonomia e origens
Classificação
Os hipopótamos constituem o género tipo da família HIPPOPOTAMIDAE. O hipopótamo-pigmeu pertence a um género diferente da família HIPPOPOTAMIDAE (HIPOPOTAMÍDEOS ), ou CHOEROPSIS ou HEXAPROTODON. Por vezes é usada a subfamília HIPPOPOTAMINAE. Alguns taxonomistas agrupam ainda os hipopótamos e os ANTRACOTERÍDEOS na superfamília ANTHRACOTHEROIDEA. Os HIPPOPOTAMIDAE estão classificados juntamente com outros ungulados com um número par de dedos na ordem ARTIODACTYLA. Outros ARTIODÁTILOS incluem os camelos, os bovinos, veados e porcos, ainda que os hipopótamos não estejam relacionados filogenicamente com estes grupos.
Um hipopótamo-pigmeu (CHOEROPSIS LIBERIENSIS).
Há cinco subespécies de hipopótamos descritas com base em diferenças morfológicas:
• H. a. AMPHIBIUS – (o nome não abreviado refere-se à subespécie) cuja distribuição ia do Egito, onde estão agora extintos, a sul do Rio Nilo, à Tanzânia e Moçambique;
• H. a. KIBOKO – no Quénia, na região dos Grandes Lagos, e na Somália, no Corno de África. Apresentam narinas mais largas e a zona interorbital mais nitidamente côncava;
• H. a. CAPENSIS – da Zâmbia à África do Sul, com o crânio mais achatado de todos;
• H. a. TSCHADENSIS – ao longo da África Ocidental até, tal como o nome sugere, ao Chade: um pouco mais baixo e com face mais larga e órbitas proeminentes;
• H. a. CONSTRICTUS – em Angola, na região meridional da República Democrática do Congo e da Namíbia: assim designado devido à sua profunda constrição preorbital;
Estas subespécies nunca foram amplamente utilizadas ou validadas por biólogos no seu trabalho de campo; as diferenças morfológicas descritas são tão pequenas que podem resultar de uma mera variação em exemplares não representativos. Análises genéticas testaram a existência de três destas putativas subespécies. Um estudo que examinou DNA mitocondrial de biópsias da pele extraídas de 3 localizações de amostragem, consideraram a diversidade genética e sua estrutura entre hipopótamos através do continente. Os autores encontraram alguma diferenciação genética, baixa, mas algo significativa, entre as subespécies H. a. AMPHIBIUS, H. a. CAPENSIS, e H. a. KIBOKO. Nem a subespécie H. a. TSCHADENSIS nem a H. a. CONSTRICTUS foram testadas.
Evolução
Até 1909, os naturalistas agrupavam os hipopótamos juntamente com os porcos, baseando-se em padrões dos dentes molares. Várias linhas de evidência, em primeiro lugar pelas proteínas do sangue, depois pela sistemática molecular , ADN e pelo registo fóssil, demonstram que os seus parentes mais próximos atuais são os cetáceos (baleias, golfinhos, etc.). Os antepassados comuns dos hipopótamos e das baleias ramificou-se em ramo separado dos ruminantes e dos restantes ungulados com patas com número par de dedos; as linhagens dos cetáceos e dos hipopótamos divergem pouco depois.
CETARTIODACTYLA
TYLOPODA
ARTIOFABULA
SUINA
CETRUMINANTIA
RUMINANTIA
WHIPPOMORPHA
HIPPOPOTAMIDAE
CETACEA
ANTHRACOTHERIUM MAGNUM DOOLIGOCENO europeu.
A teoria mais recente sobre as origens dos HIPPOPOTAMIDAE sugere que os hipopótamos e as baleias partilharam um antepassado semiaquático cuja linhagem se separou dos outros ARTIODÁTILOS há cerca de 60 milhões de anos. Este hipotético grupo antepassado ter-se-á dividido em dois ramos há cerca de 54 milhões de anos. Um dos ramos terá dado origem aos cetáceos provavelmente há cerca de 52 milhões de anos, com a PROTOBALEIA PAKICETUS e outro grupo de baleias ancestrais conhecidas coletivamente como ARCHAEOCETI, que terão passado por uma adaptação aquática secundária até dar origem aos cetáceos verdadeiramente aquáticos. O outro ramo deu origem aos ANTHRACOTHERIIDAE (ANTRACOTERÍDEOS), uma grande família de quadrúpedes, cujo grupo mais antigo datará do Eoceno tardio, e que se assemelharia a hipopótamos magros com cabeças comparativamente mais pequenas e estreitas. Todos os ramos dos ANTRACOTERÍDEOS, exceto o que deu origem aos HIPPOPOTAMIDAE, extinguiram-se durante o Plioceno sem deixar quaisquer descendentes.[20]
Um esboço de linhagem evolutiva pode ser traçada a partir das espécies do Eoceno e do Oligoceno: ANTHRACOTHERIUM e ELOMERYX, até às espécies do Mioceno, MERYCOPOTAMUS e LIBYCOSAURUS, até ao último dos ANTRACOTERÍDEOS no Plioceno. MERYCOPOTAMUS, LIBYCOSAURUS e todos os hipopotamídeos podem ser considerados como um CLADO, sendo os LIBYCOSAURUS os mais aparentados aos hipopótamos. O seu antepassado comum terá vivido no Mioceno, há cerca de 20 milhões de anos atrás. Os hipopotamídeos estão, então, profundamente relacionados com a família dos ANTRACOTERÍDEOS. Acredita-se que os hipopotamídeos tenham evoluído já em África. O mais antigo grupo conhecido de hipopotamídeos é o género KENYAPOTAMUS, que viveu em África de há 16 a 8 milhões de anos atrás. Enquanto há registos de espécies de hipopotamídeos através da Ásia e da Europa, nenhum fóssil foi descoberto no continente americano, ainda que vários géneros de ANTRACOTERÍDEOS tenham emigrado para a América do Norte durante o Oligoceno inicial. De há 7,5 a 1,8 milhões de anos atrás, um antepassado comum dos modernos hipopótamos, o ARCHAEOPOTAMUS, viveu em África e no Médio Oriente.
Enquanto o registo fóssil dos hipopótamos ainda não está devidamente compreendido, os dois géneros modernos, HIPPOPOTAMUS e CHOEROPSIS (por vezes designado HEXAPROTODON), terão divergido há não mais do que 8 milhões de anos atrás. Os taxonomistas discordam quanto à inclusão ou não do hipopótamo-pigmeu no género HEXAPROTODON – aparentemente um género PARAFILÉTICO que incluiria também os hipopótamos asiáticos extintos que eram mais próximos dos géneros HIPPOPOTAMUS, ou CHOEROPSIS – um antigo género basal.
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